solidão

Como muito bem dizia o cronista Antônio Maria, só há uma vantagem na solidão: poder ir ao banheiro com a porta aberta.

A cidade, a rua, a casa, o ar, o colo, a cama, o corpo e principalmente a multidão nos acumula um apelo desesperado de angústia. É como estar apaixonado, nada além da pessoa amada sensibiliza. É como a morte, nada além do silêncio desespera.

Quando eu era criança viajava com meus avós para Itaiçaba, terra deles no interior do Ceará, passava por casas no meio do mato, lá longe, onde a luz da lamparina trazia felicidade. Lembro que ficava imaginando como seria a vida daquelas pessoas, que as crianças não conheciam o Topo Gigio, não brincavam de Barbie e a fada Xuxa que alegrava minhas manhãs descendo de uma imensa nave espacial não alimentava os sonhos deles. Lembro que eu dizia na minha inocência infante “Vixiii, Vó e eles não brincam? Não se divertem?”.

Hoje adulta, mas não menos criança, vejo que a solidão daquelas casas era minha. Quando observo o cotidiano das pessoas que não vivem na zona urbana entendo os valores que eles trazem no coração. O aconchego, a mesa farta, a contemplação do sol nascendo, a família reunida para a sopa ao entardecer, as verdades que são para sempre.

Acredito que eles se sintam menos sós do que eu e meu celular com mais de quatrocentos números na agenda. Do eu e meu orkut com mais de oitocentos “amigos”. Do que eu e meu twitter com meus mais de duzentos seguidores. Do que e minha TV com mais de cem canais, eu e meu MSN, meu Skype e todas as palavras, todos os sambas, todas as noites.

Não há entendimento com a solidão. Ela gosta de silêncio.